O Homem Que Veio do Futuro Planet of the Apes

Acredito que ao lerem o título se devam estar a perguntar, “Mas afinal que filme é este? Clássico?” Mas foi com este nome que o primeiro filme da saga Planet of the Apes se estreou em território nacional a 6 de maio de 1968, tornando-se, a par com 2001: Uma Odisseia no Espaço, num forte expoente do cinema de ficção científica.

Realizado por Franklin J. Schaffner, cuja obra conta com títulos como Patton (1970) e Papillon (1973), O Homem Que Veio do Futuro é um filme de ficção científica e aventura, adaptado do romance homónimo de Pierre Boulle, La Planète des Singes de 1963.

O filme conta a história de uma equipa de astronautas, liderada por George Taylor, que viaja pelo espaço a milhares de anos-luz das suas casas, numa procura por uma “nova Terra”. Porém, após entrar num “sono induzido”, a nave de Taylor cai num planeta desconhecido, a cerca de 2000 anos-luz da Terra. O capitão e os seus tripulantes procuram, então, entender o funcionamento do planeta desconhecido (e aparentemente deserto e sem vida), tendo sempre em mente que um regresso a casa é impossível. Contudo, este planeta esconde mais do que cada um dos tripulantes imaginam, sendo este mistério uma das forças motriz da narrativa.

Ainda sobre a história, é interessante ver como Schaffner e os guionistas apresentam situações às personagens que nos levam a questionar a nossa natureza enquanto espécie. Será que há algo maior que o Homem no futuro que se avizinha? Será a Teocracia incompatível com os desenvolvimentos tecnológicos? Qual é a génese de uma cultura? Algumas destas questões são evidentes – as próprias personagens colocam-nas por nós. Porém, muito é deixado para a nossa interpretação, uma característica já conhecida das obras dos guionistas. Aliado a Michael Wilson, Rod Sterling, conhecido pela famosa série A Quinta Dimensão (nome português da série The Twillight Zone), deixa vincada a sua visão do mundo, da vida e desta situação específica na história do filme.

O próprio filme parece defender certos pontos de vista. Ao longo do filme notei que a questão da individualidade de cada ser vivo tornou a aparecer diversas vezes. Seja em diálogos ou em ações, as personagens parecem defender que tudo aquilo que é alheio à sua existência é uno, previsível e, até certo modo, assustador, visto que não há qualquer forma de identificar o desconhecido. Porém, é aparente a aversão do realizador e dos guionistas a esta mentalidade mais simplista e redutora. Também notei que a película parece defender que toda a cultura é oriunda do pensamento. Porém, não me é possível estender sobre esta discussão. Terão de ver por vocês mesmos.

Bem, um filme do final dos anos 60 e com nuances políticas e filosóficas, deve ser um filme chato e difícil de se assistir, não? Pelo contrário. O Homem Que Veio do Futuro é um filme que acaba por entreter bastante, escondendo algumas das suas rugas.

Mas não as apaga. Apesar do texto se manter atual e todas as suas questões se manterem relevantes, o filme tem muitas marcas típicas de uma película dos anos 60. Há um uso (a meu ver incorreto) de zooms em objetos, muita da plasticidade do som é exagerada e a transição entre certas cenas é abrupta, não havendo uma transição natural entre as mesmas. Mas é esta a visão do realizador. Afinal, já se passaram 54 anos e o filme continua a ser um clássico.

Apesar do filme apresentar diversas personagens, umas mais desenvolvidas que outras, quero dar destaque ao protagonista desta obra. George Taylor é interpretado por Charlton Heston, um dos atores mais galardoados da história do cinema, que conta com papéis de peso, como Bem-Hur ou Moisés no currículo. Taylor é introduzido como um homem sonhador, que acredita que existe algo mais perfeito que o Homem. Um líder nato, Taylor é o astronauta perfeito, algo que o público americano precisava (lembremo-nos da corrida espacial; a NASA colocaria Neil Armstrong e a sua tripulação na Lua um ano após o lançamento deste filme). Porém, é lutador. Perante as adversidades, Taylor consegue manter-se fiel às suas crenças e lutar para as ver concretizadas. Não são poucas as vezes que Heston puxa pela voz e vinca a sua opinião nas demais personagens. Pessoalmente, acho-o um “pãozinho sem sal”, o macho alfa genérico das obras da altura (cujo auge viria duas décadas mais tarde com os filmes de ação de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger). Já o restante elenco é competente. Com simples olhares, o inteligente distingue-se do selvagem. Com movimentos corporais precisos, os verdadeiros líderes destacam-se.

A banda sonora deste filme é composta por Jerry Goldsmith. O compositor americano, conhecido pelo seu trabalho em obras como Star Trek: The Motion Picture e, curiosamente, os filmes emblemáticos do Rambo, colabora mais uma vez com Schaffner na composição da obra desta película. Detenho a opinião que Goldsmith foi um compositor de músicas-tema, mas que a composição geral da obra em si deixa um pouco a desejar. Um exemplo desta minha opinião pode ser visto no primeiro filme do Rambo, A Fúria do Herói de 1982. A música-tema do filme é excelente, na minha opinião, mas com a exceção da música cantada no final, a banda sonora do filme é, de certo modo, esquecível. Já n´O Homem Que Veio do Futuro, Goldsmith compõe uma banda sonora que, embora ausente na maioria da película, lhe valeu uma nomeação ao Oscar na categoria de “Melhor Banda Sonora”. Pessoalmente, não gosto. Acho-a pouco marcante e pouco inspirada. Tendo em conta o repertório do compositor, espera-se mais.

Quero ainda dar destaque à equipa de efeitos visuais do filme, mais concretamente, à equipa de maquilhagem. O trabalho de cada elemento da produção é soberbo. Como muitos elementos deste filme, mostra a sua idade. Porém, coloco-a a par dos efeitos visuais de Guerra das Estrelas, como algo atemporal. O trabalho que esteve por trás de cada uma das personagens é de se tirar o chapéu. Passagens de tempo, marcas de guerra e heranças genéticas são aparentes só nos efeitos aplicados em cada uma das personagens. E, lembremo-nos, este filme foi produzido antes do uso excessivo de computadores no cinema, o que dá ainda mais valor à obra. Contudo, o mais impressionante do filme não o posso descrever. Apesar de óbvio, quero salvaguardar a experiência de quem ainda não viu o filme.

Seria de esperar que o filme fosse dono de alguns prémios. Afinal, um filme que trata da questão da evolução da espécie humana, religião e a estratificação da sociedade (numa altura que o comunismo era alvo de muita perseguição por parte do povo americano) é o tipo de filme que os cinéfilos tendem a apreciar. Porém, a premiação deste filme ficou muito aquém, na minha opinião. O filme foi indicado ao Oscar de melhor figurino e melhor banda sonora, como já tinha dito, levando mais tarde o Oscar honorário pelo trabalho de maquilhagem atemporal feita neste e nos restantes filmes da saga, título este atribuído ao já falecido John Chambers.

E por falar nisso, a história d´O Homem Que Veio do Futuro teve sequência logo dois anos após o lançamento do primeiro filme, com O Segredo do Planeta dos Macacos (1970), seguido d´A Fuga do Planeta dos Macacos (1971), Conquista do Planeta dos Macacos (1972) e Batalha pelo Planeta dos Macacos (1973). Mas honestamente, não tive a oportunidade de espreitar o que estes filmes têm a dizer.

Da mesma forma que não vi o remake de 2001, pela mão do já consagrado Tim Burton. O Planeta dos Macacos trouxe um elenco de peso, com Mark Wahlberg e Tim Roth a encabeçar esta obra. Daquilo que pude ver, a maquilhagem parece incrível, muito mais realista que aquela dos anos 60 (o que não é de estranhar, claro). Porém, não fez muito sucesso o que fez com que esta saga tivesse uma trilogia nova em 2011. Propondo-se a explicar as origens do planeta que viria a ser explorado por Taylor anos mais tarde, esta nova trilogia servia dois propósitos: de prequel e de reboot. Adoro esta nova trilogia. As personagens, as histórias, os efeitos especiais são soberbos.

Mas porque é que escolhi este filme para ser a capa da segunda edição da “Bobina”? Simples: além de um forte expoente do cinema de ficção científica, foi o primeiro filme de uma saga milionária, muitas vezes ofuscado pela luz dos seus “rebentos”. E com as recentes conversas de um quarto filme ou de uma série para dar continuidade da cronologia remake, é uma ótima oportunidade de nos lembrarmos das origens desta saga e, em especial, deste filme. Se ainda não o viram, façam um favor a vocês mesmos e vejam! Porém, se conseguirem, evitem ver qualquer tipo de material promocional do filme. Evitem essa macacada.