De regresso ao Portugal dos Pequenitos, versão pesadelos de infância, Little Nightmares aterra com a sua terceira instalação numa saga que tanto tem de cinematografia brilhante como de jogabilidade de nos cortar o ar dos pulmões.
Desde a primeira instalação que tenho o prazer de analisar esta saga, qual me tem vindo a surpreender apesar da hesitação em ver a sua continuidade. Tenho tecido elogios com a salvaguarda de sempre achar arriscado de mais manter a barra tão elevada a cada anúncio de um novo título que vá tentar mexer na fórmula do primeiro jogo.
Contra tudo o que esperava a sequela calou-me completamente, distanciando-se a algumas léguas e merecendo o seu próprio destaque. Mas infelizmente é aqui que todo o brilhantismo parece terminar, pois parcas são as sensações de novidade que este terceiro título recém lançado reserva para os jogadores veteranos.
Comecemos por falar na trama, onde acompanhamos Low e Alone, à semelhança do que já vem a ser feito nas instalações anteriores. Aqui a única diferença que separa o novo duo é a verdadeira amizade e cooperatividade que as personagens nutrem entre si, o que culmina num caminho nunca antes trilhado em toda a saga, qual em tempos me deixou traumatizada ao ponto de não conseguir comer salsichas durante uns bons tempos!

Efetivamente o grande estandarte deste Little Nightmares III é poderem jogar a 2, sendo os controlos iguais aos anteriores mas com cada personagem a ter a sua habilidade: seja um de poder acertar em alvos ao longe, seja outro de poder andar à marretada. Contudo talvez a melhor opção a ponderar seja jogarem no pc dado que não é possível jogar em Local Coop, apenas online, e claro, a vida tá difícil para todos termos subscrições adicionais para jogar online quando já pagamos faturas mensais chorudas de internet…
Nisto, caso prefiras jogar sozinho, o segundo personagem será controlado pelo CPU à semelhança dos títulos anteriores, o que gera menos conflito no controlo da câmara. Aqui sublinha-se a cinematografia que como bem tem caracterizado toda a saga, consegue retirar melhor proveito no modo solo onde respira com o jogador todo o panorama e enquadramento. Desde os movimentos de câmara para espreitar-mos os recantos mais ocultos dos cenários, ao acompanhamento do movimento da cabeça do personagem e das sequências de ação, tudo brilhantemente coreografado, o que demonstra que a Supermassive Games fez o seu trabalho de casa!

Nowhere continua um lugar inóspito, desolado, com pouca cor e esperança. Com diferentes cenários assombrosos, creio que só o Circo merece grande destaque para a criatividade e liberdade criativa com que recrearam a sua atmosfera mais “carnival”.
Contudo, tudo o resto, pareceu uma cópia chapa cinco do que já tinha sido criado pela Tarsier no jogo anterior. Desde o game design dos níveis, das sequências de ação, dos puzzles, o que culmina na problemática que levantei aquando da análise do primeiro jogo: a dificuldade de recriar o sentimento de novidade. O que é uma pena pois claramente quando olhamos para o nível do Circo, como já referi, o nível mais original que a Supermassive Games se empenhou em criar, podemos reter que houve aqui muita oportunidade perdida para soltar a criatividade que não temos reservas a reconhecer no estúdio nos trouxe Until Dawn e The Dark Pictures Anthology. Claramente podiam ter justificado este terceiro título com mais pompa e propósito.

Não só me entristece ver esta repetição de fórmulas do jogo anterior, como a nível de pesadelos, o design dos inimigos que é sempre um dos maiores pesos a capitalizar nestes jogos, fico muito, mas muuuuuuito aquém do desejável. Tirando apenas um memorável duo, todos os cenários falham ao entregar inimigos, quais chegamos mesmo a questionar se não são apenas personagens de background aleatórias para encher chouriços.
Um dos estandartes da saga, mesmo para os jogadores mais desatentos ao som ambiente e banda sonora dos videojogos, é sempre a música inquietante dos últimos títulos. Esta é altamente recomendada para ambientes de festa de Halloween, dando arrepios de te abraçares a ti próprio e baloiçares-te no sofá em posição fetal a trautear. Contudo Little Nightmares III apresenta uma total ausência de banda sonora marcante neste aspeto. Não há mesmo nada a destacar aqui.

Para encerrar esta análise e para cimentar bem a minha posição de que Little Nightmares III foi desnecessariamente um título apressado para fazer vendas, construído em cima do que já existia, adianto que já não bastava ser uma cópia com nova roupagem do anterior, foi ainda mais curto, talvez mesmo metade da duração da jogabilidade do anterior. Mais que um marco na saga, Little Nightmares III é um golpe difícil de cicatrizar.
Little Nightmares III já está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox Series X|S, e na Steam para PC.

































