Há exactamente vinte anos atrás estreava Mean Girls – Giras e Terríveis (2004), uma comédia juvenil que se tornaria não só um sucesso mundial mas também ganharia um certo estatuto cult classic mais moderno. O filme, escrito por Tina Fey, incluía uma das maiores estrelas daquela época dentro de várias produções daquele género, Lindsay Lohan, e ainda no elenco nomes como Rachel McAdams e Amanda Seyfried, que começavam a construir as suas carreiras.
O filme marcou uma geração nos anos 2000, curiosamente, no mesmo ano que outros filmes como Eurotrip, A Míuda do Lado e Derepente Já nos 30 estavam para ser lançados depois de sucessos como a saga de American Pie. Tudo isto produções mais direcionadas para um público adolescente em abordar os problemas e dilemas daquelas idades bem como explorar as descobertas e comportamentos típicos com uma pitada de hormonas à mistura.
A nova versão de Mean Girls que estreia já neste começo de ano propõe-se então em modernizar o clássico filme para uma geração Z onde as redes sociais e o domínio de fenómenos como Tik Tok e Instagram predominam no quotidiano atual dos jovens; não só uma releitura mas também pegando em vários elementos do musical da Broadway que foi criado uns anos depois.
A premissa centra-se em Candy Heron (Angourie Rice), uma adolescente do Kenya que se muda para uma cidade norte-americana, começando uma nova vida ao lado da mãe. Na sua nova escola, cruza-se com Regina George (Reneé Rapp), a abelha mestre do grupo mais popular de raparigas da elite chamadas As Plásticas, ao lado das suas lacaias Gretchen (Bebe Wood) e Karen (Avantika), ao mesmo tempo que tem de sobreviver a esta nova realidade e aos desafios da própria idade.
Apesar de nunca ter visto o musical na qual este filme também se baseia, lembro-me muito bem de assistir o original da Lindsay Lohan no cinema em 2004. O que faz com que este novo Mean Girls me tenha dado muito uma sensação de déjà vu por recriar exactamente a mesma história e as mesmas personagens, o que assim sendo, não acrescenta totalmente algo novo para quem já conhece. Recria, assim, praticamente os mesmos momentos do original, inclusive muitos dos diálogos serem quase copy paste do próprio mas editando alguns pormenores para realidade atual.
Mas, apesar dessa repetição evidente, a maior novidade e o suposto “twist” que Tina Fey mencionava na divulgação do filme, é certamente o facto de que Mean Girls é na sua maioria também um musical introduzindo várias sequências musicais que deduzo que tenham sido retiradas do próprio musical da Broadway.
Esse aspecto musical é um dos pontos que mais gostei dando uma energia nova a esta versão e uma forma diferente mas inovadora de apresentar os personagens e os próprios conflitos que a narrativa traz. Muitos dos números musicais também nos fazem entrar logo no mood do filme duma forma bem descontraida e atrair-nos aos personagens.
Infelizmente, não achei Reneé Rapp uma Regina tão maquiavélica quanto Rachel Adams nos proporcionou em 2004, dando uma sensação que o seu screentime também foi menor e o próprio guarda-roupa das plásticas não se destacava tanto para representar a variada cadeia-alimentar social daquela escola ou um ar de superioridade. Mas é nos momentos musicais que a atriz mais brilha como no seu próprio número de introdução da rainha daquele lugar.
Por outro lado Auliʻi Cravalho e Jaquel Spivey que interpretam Janis e Damian (os novos amigos de Cady) são os elementos vocais do elenco que mais gostei com as melhores sequências musicais e aplicando alguns toques modernos desde o original na questão da inclusão. Enquanto isso Augourie Rice faz uma Cady bastante competente desde o peixe fora de água até se deixar levar pelas influências das suas novas amizades mostrando como as mesmas podem determinar a nossa experiência e crescimento tanto para o bem como para o mal.
Em suma, Mean Girls serve mais para cativar um novo público jovem mais próximo da realidade e linguagem hoje em dia acabando por recriar a mesma história mas com um toque mais moderno e tecnológico, não que isso seja propriamente negativo visto que o original já era elogiado no seu próprio tempo. Entrando para o filme com esse espirito, acredito que para quem já é familiar possa talvez desfrutar melhor algo que à primeira vista soa a “desnecessário” numa época cheia de remakes e reboots.