Anunciado pela primeira vez em 2019, The Lord of the Rings: Gollum chegou finalmente às mãos dos fãs do universo da terra média de J.R.R. Tolkien. O entusiasmo por este título nunca foi vasto, mas se era o desfecho de algo que dignifique a maior obra da literatura de fantasia que os fãs mereciam? É aí que reside o problema, ninguém merecia isto.
De forma quase abreviada antes de te falar de todos os problemas de Gollum, deixa-me começar pelo menos por elogiar a Daedalic Entertainment por falhar inteiramente na execução, mas no mínimo, respeitar a lore da obra original, e entregar alguns toques únicos narrativos que me conseguiram aguçar a curiosidade ao ponto de aguentar até ao final da jornada do pequeno Sméagol.
Meu Precioso
Se como eu, experienciaste minimamente o universo da terra média — quer seja pelos filmes ou livros —, conhecerás o passado da criatura que protagoniza este jogo, Sméagol, cuja mente foi consumida por um anel extremamente poderoso que o deixou completamente demente, desequilibrado e louco; corrompido ao ponto de criar uma dupla personalidade maléfica, que ao bem ou mal, o vai equilibrando na loucura dos seus actos de comportamento de viciado.
A história de Gollum (o jogo) começa imediatamente após Sméagol ter sido roubado. O seu anel, o maior precioso que o fez ceifar vidas além da dele, agora no bolso do Bilbo Baggins que o enganou e fugiu. No maior acto de desespero, Sméagol abandona a sua caverna escura e parte rumo ao desconhecido em busca do maldito hobbit para recuperar o que na sua mente corrompida; é a sua salvação. É aqui que entra a história original da Daedalic, que sem muitos devaneios nos mostra a jornada dolorosa de Gollum sem o seu precioso, uma viagem mencionada, mas nunca abordada nos livros e filmes.

Capturado por um Nazgûl pouco após abandonar a sua zona de conforto, a pequena criatura foi enviada para as masmorras horripilantes de Mordor, onde teve que realizar trabalhos junto com outros escravos, e literalmente fazer-se à vida, aproveitando-se de todas as situações a seu dispor.
Infelizmente, não há nenhuma personagem adicional em Gollum que se destaque, ao contrário do protagonista na voz de Wayne Forester, que faz um excelente trabalho numa dobragem que certamente não deve ter sido fácil. Uma vez mais fica a curiosidade e uma nova perspectiva por outros olhos, algo sempre positivo para quem é fã deste universo e quer absorver mais conteúdo nem que seja fan-made.
Trabalho de escravo
É exactamente no momento em que Gollum chega às masmorras de Mordor que nos começamos a aperceber do tédio que estas cerca de oito a dez horas serão. Mais de metade da jornada será passada neste local, a realizar tarefas hediondas que nenhum apaixonado por este universo quer estar a fazer, como acender fogueiras, cuidar das feras e até chocar ovos — sim, leram bem —; tudo isto em capítulos longos e extremamente chatos.
Além do tédio absurdo, Gollum sofre de problemas gravíssimos como bugs que impedem de progredir e que te obrigam a ter de recarregar checkpoints, e, muitas vezes; até reiniciar a fase completa. Isto aconteceu-me 3 vezes e já com o patch 1.03, com perseguições que após ter falhado, o jogo mostra o ecrã de gameover e reinicia exactamente milésimos de segundos antes de voltar a acontecer o mesmo gameover.

A jogabilidade não é horrível, apenas medíocre, mas o trabalho de construção de level design da Daedalic apesar de ter variedade, foi uma escolha muito mal planeada e que precisaria de mais tempo para ser refinada. O maior foco do jogo e que passaremos muitas horas é em escaladas de plataformas, e o Sméagol simplesmente não está ao nível para tal. É um personagem extremamente inconsistente para actuar nas físicas implementadas para andar a saltitar entre plataformas. Muitas vezes não se consegue agarrar às saliências, outras vezes dá um salto maior do que devia sem razão aparente, e lá vai ele, abismo abaixo…
A Daedalic a certos momentos do jogo tenta disfarçar o fracasso que Gollum é, e começa a apresentar novos segmentos de jogabilidade para nos fazer esquecer um pouco deste triste espetáculo. Lembram-se da famosa corrida de Crash Bandicoot com a câmara focada apenas no protagonista enquanto ele foge do pedregulho gigante esférico? Agora imaginem isto em Gollum com comandos desajeitados que transformam esta fase quase numa roleta-russa. Não cheguei ao ponto de partir o comando, mas lancei uns bons tons graves de vernáculo que me aliviaram a alma.
O início da geração PS3
Imaginem que estão a ver pela primeira vez a apresentação da Playstation 3, e com ela uma carrada de jogos de lançamento, e no meio desses jogos encontrava-se Gollum. Garanto-vos que não ficariam surpresos com a qualidade gráfica e provavelmente veriam títulos com melhor aspecto visual lá pelo meio.
Gollum é realmente dos jogos abjectos desta nova geração. O pequeno Sméagol tem uma das caracterizações de personagem principal mais horríveis que já vi num videojogo, é completamente descaracterizado. Certamente que por esta altura já viram a chuva de memes na internet com o design desta personagem, mas se quiserem uma comparação mais séria, este é o Gollum no Shadow of Mordor de 2014, e não é protagonista, aliás; poucas vezes aparece durante o jogo. Não há desculpas…

As texturas oscilam muito. Em alguns lugares são razoáveis, mas outras parecem saídas uma vez mais do início da sétima geração. As fracas texturas não são apenas um quesito visual e afecta também na jogabilidade, já que nos confunde imenso nos segmentos de escalada. Existem locais que estão ali só por estar, com densidade textural superior às plataformas onde é suposto conduzir o Gollum, e isso é extremamente frustrante e vai-te custar uns bons checkpoints facilmente evitáveis.
Uma nota positiva que fica uns bons furos acima da qualidade de Gollum em toda a experiência que envolve a construção de um videojogo, é a música. Toda esta construção sonora foi muito bem pensada e identifica-se extremamente bem com os personagens do jogo. O Sméagol é sempre acompanhado com notas graves e intensas de violino durante as fugas e nos momentos mais fugazes como perseguições, e é o instrumento perfeito para encaixar na sua maneira de ser, e esta musicalidade joga muito bem com as duas personalidades do personagem. É sem dúvida o momento alto do jogo.
Agradecemos à Editora pela chave digital gentilmente cedida para PS5.