Se há coisa que o Battlefield sempre fez melhor do que ninguém, foi transformar o caos absoluto da guerra numa experiência deliciosamente divertida. Para mim, é a melhor experiência de guerra arcade que existe. É um título que tem aquele equilíbrio perfeito entre realismo e loucura, entre explosões cinematográficas e momentos em que um jipe atravessa um helicóptero porque alguém achou boa ideia tentar. Quando uma nova entrada no mercado de Battlefield é bem feita, é pura magia: a saga online de guerra mais imersiva que já senti.
Vamos já despachar o modo campanha; é aceitável. Não chega nem perto do impacto que Battlefield 3 ou Battlefield 4 deixaram, mas também não é um desastre total. É sólida, vá. Os cenários são visualmente incríveis e há momentos de acção dignos de um filme de Michael Bay, mas a história é previsível, recheada de clichés militares, e sem personagens memoráveis. Parece escrita à pressa, apenas para cumprir calendário. É o típico “bem, temos de meter um modo história, não é?”.
Mas onde Battlefield 6 brilha e sempre brilhou, sendo o diferencial para a compra do jogo, é mesmo no multiplayer. Desligamos o crossplay, e lá vamos… A jogabilidade é refinada, as armas têm um peso delicioso, os efeitos sonoros estão de arrepiar e o ambiente de guerra é simplesmente imersivo, ainda que o netcode continue com problemas que me fazem duvidar da minha internet. Às vezes descarrego meio carregador no peito de um inimigo e ele absorve tudo como se de uma esponja se tratasse. Avista-me, e dois tiros depois, estou morto, sem perceber muito bem. Sim, eu sei que a minha skill não acompanha, mas estes problemas são claramente algo palpável, devido ao sistema de hit em que a mira reage quando acerta.
Desde o primeiro disparo até à última bandeira capturada, Battlefield 6 consegue transmitir aquela sensação genuína de estar no meio de uma guerra total. O som das explosões, os gritos no rádio, os tanques a avançar, o fumo no horizonte, tudo se mistura num espetáculo caótico e brutal, mas incrivelmente satisfatório. Os modos de jogo ainda reforçam mais esta sensação. Temos os tradicionais e tão amados Conquest e Breakthrough e os modos de jogo mais recentes que misturam elementos mais modernos como o Battle Royale, com o clássico da série, o bom e velho BF de volta.
Os mapas estão visualmente impressionantes e variam entre combates urbanos intensos e campos abertos ideais para veículos e longas distâncias. O design é, na maioria dos casos, sólido, embora algumas áreas forcem um choke point que transforma certas partidas em autênticos moedores de carne. Mas quando tudo se alinha, é pura adrenalina. No meio de tudo, o que mais impressiona é a atmosfera. A sensação de estar realmente num campo de batalha, com tudo a acontecer à tua volta, é inigualável. Podes morrer por um tanque a quilómetros de distância sem perceber de onde veio o disparo, e ainda assim, rir-te disso. É o caos divertido voltar a rever aqueles momentos “only in battlefield”, sempre imprevisíveis e que define o título.
Infelizmente, o sistema de classes continua a ser algo que a DICE não conseguiu ainda aprimorar. Permitir que cada jogador use praticamente qualquer arma traz o que acontecia em 2042, os malditos Suportes. Todos querem ser o herói da metralhadora cheia de munição, ninguém quer reviver ou dar munições. O Assault é quase irrelevante, o Engineer só brilha quando há tanques, e o Support tornou-se um deus ambulante. É este espírito de equipa que se vem perdendo e que sempre definiu o Battlefield. Desde BF1 e BF5 que não dá para levar mais a sério as classes. Agora reina o ego e a corrida ao K/D. Já perdi a conta às vezes que corri para reviver alguém, apenas para vê-lo respawnar um segundo antes, desperdiçando balas e a paciência.
Outro ponto que precisa urgentemente de atenção é o sistema de progressão. O desbloqueio de armas, acessórios e gadgets é um autêntico grind bizarro. As missões e desafios são muito específicos e demoram imenso para quem se foca nisso, imaginem agora quem só quer jogar pelo bel-prazer: os jogadores desistem antes sequer de experimentar tudo o que o jogo oferece.
Mas aqui há também algo que merece elogio: o nível de personalização. Cada arma pode ser modificada ao detalhe, desde miras, tipos de munição, estabilizadores, culatas, lasers, canos, carregadores… praticamente tudo pode ser combinado ao teu gosto, gerindo os pontos de cada arma, o que te pode limitar mas para causar o equilibrio certo entre equipamentos. E não são só as armas que podes personalizar, os veículos também entram na festa. Podes trocar-lhes a pintura, equipar novo armamento, alterar sistemas e funcionalidades. Tudo pode ser adaptado ao teu estilo de jogo, mas, claro, também aqui é preciso investir tempo e pontos de experiência para desbloquear o que interessa.
Visualmente, enquanto jogo na PlayStation 5, noto que apesar de belo, o jogo apresenta alguns problemas no que toca os efeitos de Luz principalmente. Há certos e determinados mapas em que lá tenho eu que ir às opções baixar o brilho do jogo para poder avistar terreno à saída de edíficios. É curioso, mas já no 2042 senti isto. Há claramente um problema com esta engine e com a construção à sua volta.
Um agradecimento especial à PlayNXT pela cedência de uma key para análise.