Sem surpresa e, como a maioria, estava um pouco reticente por voltar a testemunhar uma história demasiado familiar. No entanto, este título, sendo referenciado como um RPG onde jogamos com diversas personagens de Dragon Ball Z através de toda a sua história, e dotado de uma maior liberdade, resolvi dar-lhe uma chance.

Reviver Dragon Ball Z pela enésima e o que Kakarot tem a acrescentar

Não sei se foi pelo marketing ou pelo aspecto do jogo em si, mas senti que existe uma enorme confusão quanto ao mesmo. Para começar, este é apenas um jogo para um jogador sem a possibilidade de se escolher entre personagens e, acabando o mesmo, não existem grandes incentivos para o continuar. Sendo que o seu tempo de jogo é de aproximadamente 50 horas, o que não é mau para um jogo desta natureza, é péssimo para indivíduos que desejariam algo mais do que experienciar a história de Dragon Ball Z pela enésima vez.

Um dos efeitos que mais constatou com o próprio género, e ao contrário do RPG comum, é que aqui as actividades externas à história, muitas das vezes, são inúteis para a progressão e desenvolvimento das personagens. O jogo activa o desenvolvimento de personagens como bem entende (o que realmente é uma pena, já que dispomos de uma Skill Tree bastante requintada), sendo que praticamente não existem razões para combater ameaças no planeta, como as tropas do Freezer, robots piratas da legião vermelha, colecionar Z-orbs ou as sete bolas de cristal dispersas pelo mapa.

Normalmente num RPG, o mapa é expansivo e cheio de actividades. Rapidamente e infelizmente, apercebi-me que aqui o referenciado mundo aberto descrito neste título foi apenas uma manobra de marketing. Isto porque, tecnicamente, não percorremos um espaço em mundo aberto, mas sim pequenas áreas onde apenas podemos realizar algumas actividades, tais como pescar, caçar, comprar itens, ou destruir torres da Legião vermelha, cujas recompensas muitas vezes nem valem o esforço e dedicação.

Mas claro, nem tudo foi mau, e Kakarot foi estupendo em dois grandes pontos: os Quadros de Comunidade e a Enciclopédia Z. Os primeiros actuam sobre uma espécie de puzzle, atribuindo bónus extra às nossas personagens, sob forma de Soul Emblems. Por exemplo: colocar Yamcha, Goku e Kuririn, unidos e no mesmo quadro comunitário, desbloqueia um bónus adicional de força, visto que o trio compõe os discípulos originais do Tartaruga Genial.

Já a Enciclopédia Z, tal como o nome indica, é um índice extensivo de todo o universo criado por Akira Toriyama. Enquanto a maioria das entradas são escritas com o decorrer do jogo, outras apenas surgem após a descoberta das memórias da primeira série de Dragon Ball. Estas estão espalhadas pelos mapas e relatam momentos-chave da infância de Goku. Realmente, é impossível não sorrir perante tais eventos, sem contar que esta enciclopédia virtual também serviu para explicar algumas curiosidades e pontos-chave em toda a série. 

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Qualidade descompensada

Dragon Ball Z Kakarot Bandai Namco PlayStation 4 Xbox One PC Steam

Jogar Dragon Ball Z Kakarot é literalmente experienciar as suas missões de história. Estas colocam-nos diante das maiores batalhas onde os Guerreiros Z participaram e, sem surpresa, são a melhor parte do jogo. As mesmas representam muito possivelmente as melhores representações destes momentos até a data num videojogo, com toda a mestria a vir ao de cima que a Cyberconnect2 desenvolveu em todos os seus anos com a série Naruto Ninja Storm. O talento e dedicação empregues nas mesmas, por si só, valem mais uma vez viver a história de Dragon Ball Z, e a consequente aquisição deste jogo.

Claro que no melhor pano cai a nódoa, e nem todas as representações alcançam o mesmo nível de qualidade. Muitas vezes assistimos a um momento acompanhado de personagens praticamente estáticas ou animações básicas. Convém salientar que o jogo dispõe de áudio localizado em inglês e japonês, com as vozes originais da série, o que enaltece os grandes momentos e ameniza os mais básicos. Infelizmente, nas missões opcionais, estas ficaram ausentes, pelo que apenas ouvimos grunhidos e pouco mais. Referente às mesmas, a estrutura e os desenvolvimentos consistem em apenas três momentos: defender personagens de ameaças, falar com estas, e viajar de um ponto a outro, ou simplesmente recolher e entregar um item. Estas duas tarefas, infelizmente, copulam a maior parte destas actividades, e rapidamente tornam-se monótonas.

Senti um enorme potencial desperdiçado nestes momentos, visto que o próprio autor de Dragon Ball, Akira Toriyama, esteve envolvido nas mesmas. Não acrescentaram grandes desenvolvimentos, ou a possibilidade de tapar buracos entre a narrativa. Foram simplesmente puro fanservice. Literalmente, toda a história e desenvolvimentos decorrentes das mesmas são destinados apenas aos seus fãs. O jogo apresenta quase todos os momentos da série, mas inexplicavelmente momentos como: o “It’s over 9000!!”, a luta de Trunks Vs Cell, o Instant Kamehameha de Goku, ou até no arco de Majin Buu, as lutas no torneio, ficaram de fora por alguma estranha razão. Sentimos que pós-Namek, o jogo desce de qualidade e conteúdo (um contraste estranho, já que a veia de RPG torna-se mais evidente), possivelmente porque à última da hora, a produção também resolveu incluir os seus dois arcos seguintes. Nunca é demais referenciar que Dragon Ball Super ficou de fora, sendo que muitos especulam que surgirá na forma de um futuro DLC. 

Dragon Ball Z Kakarot e os combates de grande acção

Dragon Ball Z Kakarot Bandai Namco PlayStation 4 Xbox One PC Steam

Dragon Ball Z Kakarot, muito simplesmente no que torna a mecânicas de combate, parece uma versão simplificada de Dragon Ball Xenoverse. Apenas dispomos de um botão de ataques físicos, recarregar energia, esquivar, projectéis de Ki e, finalmente, um para defesa. Ataques célebres como o Kamehameha, ou Final Flash têm de ser equipados em prior dos combates no menu, bem como itens curativos. Este último efeito, na minha opinião, foi o pior dos males, num sistema que, por si só, já é bastante básico.

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Não existem penalizações para o uso destes elementos em combate, e os mesmos já apresentam uma dificuldade muito gentil. Se a dificuldade fosse mais elevada, o ênfase de viver como um Super Guerreiro teria outro significado, já que grande parte da história parte da preparação dos mesmos através de treinos, e as refeições teriam um peso maior. Na minha óptica, a grande mais-valia destes combates não está no que nós enquanto jogador podemos fazer, mas sim nos nossos inimigos. Em específicos encontros, os nossos adversários entram em diversos estados e disferem ataques diferentes, obrigando-nos a ambientar-mo-nos a estes estágios, onde apenas atacar insensatamente não nos levará a lado nenhum.

Outro elemento muito bem retratado em combate foram as transformações que, pela primeira vez, sentimos um pouco o sentido de urgência que muitas vezes visualizamos em Dragon Ball Z. Embora as nossas personagens possam disferir novos ataques e golpes mais fortes nestes estados, o seu Ki desce progressivamente, e não só temos de o recarregar frequentemente, como por vezes percorrer estados. Ainda existe a possibilidade de outras personagens nos apoiarem no combate, mas pelas situações descritas, este efeito acaba por se sentir nulo e vazio. 

Nem só de combate, Dragon Ball Z Kakarot retira elementos de Xenoverse. O grafismo também é muito semelhante. Felizmente, aquele brilho excessivo das personagens foi posto de lado, e certas sequências parecem quase retiradas na íntegra. O jogo, como já foi referido, conta com um grafismo sem paralelo no que toca a adaptações desta lendária obra. Os modelos são detalhados, contamos com diversos espaços para navegar e as animações (mesmo as limitadas) cumprem as suas funções.

A versão para PC conta com diversas opções gráficas, que embora sejam diminutas, estão uns passos acima de muitas já apresentadas pela Bandai Namco Entertainment. Até existe a possibilidade de modificar a resolução interna. Infelizmente, e sem Mods, o jogo não dá mais de 60 fps. Respeitante ao som, Dragon Ball Z Kakarot conta com efeitos, as já referidas vozes e músicas ligeiramente diferentes das originais. Um elemento mais que bem-vindo para terminar com as faixas de rock genérico que sempre viveram nestas séries de videojogos. 

Dragon Ball Z Kakarot já está disponível para PlayStation 4, Xbox One, e na Steam para PC.

CONCLUSÃO
Kameh...
6.5
Redação
Veterano nestas andanças, acompanhou de perto a guerra entre a SEGA e Nintendo, e sonha um dia com o regresso da estrela cadente Ristar.
dragon-ball-z-kakarot-analiseComo não podia deixar de ser, Dragon Ball Z: Kakarot é um produto único e exclusivamente talhado para os seus fãs, e uma interessante abordagem para quem deseja conhecer a série, evitando episódios de incessantes gritos e trocas de olhares, afinal aqui o episódio só termina quando desejarmos.