O próximo ano marca o regresso de Star Wars nas salas de cinemas com o lançamento de “The Mandalorian and Grogu” em Maio, trazendo assim um regresso ao grande ecrã após um hiatus de sete anos em que foram só produzidos conteúdos para o Disney Plus como séries e animações. O nono capítulo e terceiro da trilogia sequela “Star Wars Episódio IX: A Ascensão de Skywalker” foi o último filme a ser lançado em Dezembro de 2019 seguindo assim uma fase só de lançamentos para a plataforma de streaming nos anos seguintes.
No entanto tive a oportunidade de matar um pouco as saudades de ver uma das minhas sagas favoritas numa sala de cinema com as reposições do vigésimo quinto aniversário de “Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma” no ano passado e do vigésimo aniversário de “Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith” em finais de Abril deste ano.
Há muito tempo, numa galáxia muito muito distante…
Mais do que uma sensação nostálgica, foi também uma experiência voltar e tanto rever dois dos meus filmes favoritos de Star Wars acompanhado com amigos de longa data da escola, que igualmente vivenciaram o lançamento da trilogia prequela nos anos 2000 no grande ecrã ao mesmo tempo que vimos e revimos em VHS ou DVD a trilogia original lançada quando nem nós eramos nascidos.
O boom de A Ameaça Fantasma em 1999

Tinha eu 9 anos quando “A Ameaça Fantasma” saiu em 1999 e marcava dois acontecimentos importantes dentro da cultura pop: o regresso de Star Wars ao cinema após 16 anos da conclusão da trilogia original (que mais tarde designou-se por episódios IV,V e VI) também seria pela mão e mente do criador George Lucas o capitulo inicial que iria originar a Saga Skywalker de forma cronológica da história e o começo assim da trilogia prequela (Episódios I,II e III).
Muito se falou sobre A Ameaça Fantasma desde então: bom, mau, opiniões mistas etc…e agora até mesmo quem não gostou começa a ver o filme com outros olhos (o fenómeno revisionismo).
Nos olhos de uma criança de 9 anos que começou o gosto e amor por Star Wars através de uma VHS oferecida um tempo antes da edição especial de “Star Wars IV: Uma Nova Esperança” acompanhando assim essa trilogia original num leitor de VHS e televisão, a A Ameaça Fantasma foi uma mistura daquilo que seria o chamado hype mas também um sabor de novidade.
Hoje em dia dentro da saga já foi desenvolvida tanta coisa e mesmo abordando às vezes temáticas novas ou fazendo de forma diferente é difícil recriar uma sensação de “novidade” diante dos nossos olhos, o qur não quer dizer que seja de todo uma coisa má. A trilogia sequela que saiu entre 2015-2019 também não trouxe propriamente novidades, fora uma ou duas coisas e ainda acabou por reciclar muita coisa que já tinha sido feita anteriormente até mesmo visual.

Não me recordo como vi na época o trailer do primeiro episódio mas também fui inundado com muito marketing à volta do filme que acabava por mostrar aos pedacinhos. A sensação de novidade em ver Darth Maul do nada pegar no seu sabre e ele ter dois lados enquanto que na trilogia original sempre houve sabres de luz só de um lado como se fossem uma espada, a ideia de termos uma corrida oficial em Star Wars como se fosse algo de coliseu (coisa que George Lucas iria inspirar-se na famosa sequência da corrida de bigas no clássico Ben Hur de 1956) são alguns dos exemplos que dava aquela sensação fresca que ainda não tinham sido utilizadas em Star Wars no que toca a cinema.
Juntamente com isso não podia deixar de mencionar o regresso lendário de John Williams na composição da banda sonora que trouxe muitos temas novos neste Capítulo I e ainda aquele que viria a ser não só um dos melhores temas da saga mas também dos mais emblemáticos que é o “Duel of Fates” que ainda hoje arrepia só de ouvir.
Para mim A Ameaça Fantasma trouxe imenso worldbuiling para a saga que é um dos melhores aspectos deste filme, e da própria trilogia, a que pertence no meio de novas personagens, mas também o regresso de outras tanto familiares como de versões jovens como foi o caso de Obi Wan Kenobi por Ewan Mcgregor.

Voltar ao planeta onde tudo começou (Tatooine) também dava uma sensação de novo começo e recordo com grande satisfação ao ir ao cinema ver o filme de ver como seriam as introduções de C3PO e R2D2 e o começo da dupla emblemática. Ainda que na altura o meu eu de 9 anos ficou muito confuso de não ver o C3PO sair de Tatooine juntamente com Qui Gon, Obi Wan, Anakin e R2D2 na segunda metade do filme, sendo que os dois Droids só se tornariam realmente “buddies inseparáveis” no capitulo seguinte em 2002 com O Ataque dos Clones.
Lembro-me de recriar várias vezes em lego as sequências de Podracing e andar a correr com veículos construídos por mim à volta pela casa dos meus avós. Tinha um pouco aquela coisa de fazer os meus próprios filmes em Lego ( o que hoje em dia são aqueles memes dos nossos “lores” imaginários quando brincávamos com os nossos brinquedos) e não podia faltar claro sempre uma corrida de Podracing pelo meio mesmo que estivesse (ou não) relacionado com Star Wars.

Com o lançamento do filme também o Gaming não foi esquecido e o jogo Star Wars Episode I: Racer era uma das grandes atrações nas horas livres de algumas das nossas aulas de Informática. Na escola, entre colegas, podiamos escolher pilotos como Anakin Skywalker ou Sebulba naquelas torres de computador da época.
Ainda em casa jogava inclusive o próprio jogo que retratava o filme para a Playstation 1 (que não era fácil de todo) e que teve direito até a ter relançamento PS Classics no começo de 2024 para PS4 e PS5.
O Fechar de um Ciclo em 2005

Muito antes da Disney comprar Star Wars em 2012, e de sermos de seguida bombardeados com a noticia de que uma trilogia nova estaria em produção com um sétimo capítulo a caminho em 2015, situado trinta anos depois dos acontecimentos do sexto episódio “O Regresso de Jedi”, 2005 marcava o ano que as duas trilogias se uniam com a chegada do terceiro capitulo da trilogia prequela, “Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith” e que daria também certas conclusões entre a ponte das duas.
Eram muitas as perguntas que tínhamos para fazer ligação aos filmes originais e questionávamo-nos como seriam os destinos de muitas personagens e a própria extinção dos Jedis (algo que era tão normal de existir no período desta trilogia prequela) mas que seria reduzida (pelo menos naquela altura nos filmes ainda) a Yoda e Obi Wan Kenobi como sobreviventes.
A expectativa era muita e mesmo antes de sairem as primeiras divulgações do filme, a sensação à volta é que seria um filme negro e trágico, o que não era difícil de imaginar dado que estávamos a acompanhar a história prequela de uma história que teria desenvolvimentos, ligações e personagens vindos do que seria o eventual desfecho da A Vingança dos Sith.

Agora com outra idade, compreendo melhor como funciona o mundo do storytelling com outros olhos, mas na época questionava muito como fariam a ponte para “ocultar” tantos personagens que eventualmente não iriam aparecer na trilogia seguinte.
Recordo ainda que no meu sétimo ano em 2003,eu e mais um colega meu de turma (com quem também fui ver as reposições que mencionei atrás destes dois filmes), andávamos a frequentar uma atividade extra curricular depois das aulas que era oClube de Informática.
Um dos projetos que fizemos em grupo foi uma publicidade em formato áudio cujo objetivo era pôr em prática algumas técnicas que tínhamos aprendido em alguns programas de som e mistura. A nossa ideia foi então um anúncio publicitário a assinalar a fictícia “estreia” do terceiro filme que na altura ainda não tinha um titulo oficial e dêmos o nome então de Star Wars Episódio III: A Força Negra com aquela típica line antigamente do “Sexta Feira estreia”.
Ver o tão aguardado capitulo final em Maio de 2005 trouxe uma sensação de um final de ciclo e uma história terminada em seis capítulos (pelo menos no que toca aos filmes sem estar a contar com o eventual material estendido que saia em livros e alguns jogos à parte). Havia um clima de “Endgame” praticamente como uma sessão evento de algo emblemático a dar-nos as respetivas respostas sabendo que à medida que assistíamos o filme certas tragédias como a extinção dos Jedis e o nascimento de Darth Vader teriam de eventualmente acontecer. A Vingança dos Sith trazia então um dos confrontos mais épicos de toda a saga que seria o duelo estendido de Anakin e Obi Wan no planeta vulcânico de Mustafar que decorria em várias partes do filme ao mesmo tempo que outras situações aconteciam em Coruscant com Yoda.

E mencionando o Mestre Yoda não poderia esquecer do confronto de Yoda contra Palpatine (Darth Sidious) que também trazia alguns momentos caricatos graças à perfomance de Ian Mcdiarmid como Palpatine.
Hoje em dia não gosto muito da palavra “hype” para simbolizar algo, pois é um termo que foi para caminhos que vão do 8 ao 80, mas estar já a presenciar ao terceiro ato do filme que seria uma montanha russa de acontecimentos e emoções em jogo que iriam mudar várias coisas na história daquela galáxia e meterem a tocar novamente a icónica faixa de música “Duel of Fates” introduzida em A Ameaça Fantasma, a meio do duelo de Yoda contra Palpatine era a definição total de hype tremendo a testemunhar aquilo no grande ecrã aos 15 anos.
Não menos importante é também a nova faixa épica criada por John Williams para a banda sonora que é a “Battle of Heroes”, a música que acompanha principalmente a parte final do duelo entre Anakin e Obi Wan. Mais do que um mestre e aprendiz, dois irmãos a combater.

Voltar a vivenciar este ano tais momentos épicos de A Vingança dos Sith, numa sala de cinema na reposição dos 20 anos do filme juntamente com os meus colegas de escola, foi voltar a 2005 quando vimos aquilo pela primeira vez. Não sendo da mesma forma, A Vingança dos Sith traz um sentimento de evento como quem assiste a O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei ou até mesmo anos mais tarde com Harry Potter e os Talismâs da Morte Parte 2, mas aqui juntando muita tragédia a acontecer dando as respostas que queríamos há uns anos.
Porque essencialmente A Vingança dos Sith sempre foi um filme trágico com muita perda e o inicio de um império na galáxia, mas com um final esperançoso em Tatooine refletindo que há uma pequena faisca de esperança que daria seguimento então na trilogia seguinte que toda a gente já conhecia e amava.

E falando em tragédia, não poderia deixar de mencionar mais a fundo o momento da Ordem 66 que dá inicio ao massacre feito a todos (ou quase todos) os Jedis espalhados pela galáxia.
É uma experiência deveras interessante testemunhar essa sequência com uma outra perspetiva mais densa tendo visto a série The Clone Wars mais especificamente os quatro últimos episódios da sétima e última temporada, que se passam ao mesmo tempo deste acontecimento e dão inclusive mais contexto à situação dos clones e o porquê deles em certa medida “entrarem em piloto automático” assim que tal ordem é proferida. Se os filmes nunca tiveram muito tempo para explorar outros Jedis mais a fundo para além de Yoda e Mace Windu de background ou até mesmo os clones, The Clone Wars faz esse serviço e ainda nos deixa ligados a muitos dos clones que são apresentados. Tendo visto não só The Clone Wars mas também outras séries de animação como Star Wars Rebels, The Bad Batch ou mesmo certos momentos de jogos como Jedi Fallen Order com Cal Kestis deixa toda a sequência da Ordem 66 mais complexa, densa e mais emocional do que apenas vermos a versão do filme tornando-se numa experiência com outras camadas igualmente trágicas e de desolação.
Agora resta aguardar por 2027 em que supostamente o capitulo que começou tudo isto em 1977 vai voltar aos cinemas no seu aniversário de 50 anos.