Arquivo de Tinybuild | Squared Potato

Se há coisa que The King is Watching faz bem, é deixar-te a olhar para o ecrã a pensar: “O que é que se está a passar aqui... e porque é que estou a gostar?” A premissa parece simples: colocas edifícios num tabuleiro, fazes umas escolhas, e deixas o tempo (e os inimigos) correr. Um puzzle passivo, quase meditativo. Mas depois percebes que, afinal, cada decisão que tomas — ou deixas de tomar — tem consequências. E lá vais tu, mais uma run, porque agora já sabes o que estás a fazer… ou achas que sabes. Confesso: o jogo atirou-me para o meio da arena sem um único beijinho de boas-vindas. Tutorial? Só nos teus sonhos, porque o que nos acolhe é um belo “faz isto e aquilo e agora desenrasca-te”. E mesmo escolhendo a opção “nunca joguei isto na vida”, a resposta foi um pragmático “boa sorte, majestade”. Resultado? As primeiras runs foram confusas, quase punitivas. Mas quando tudo começou a fazer click — matérias-primas, inimigos, upgrades, timings — o jogo transformou-se num loop relaxante, quase zen, onde o desafio está em espremer até à última gota os recursos do teu reino... antes que te esprema a ti. Se gostas de jogos onde desligas o cérebro mas ficas secretamente a fazer contas de cabeça, este é para ti. Se não… bom, o rei continua a ver-te na mesma. O visual de The King is Watching é um pixelart engraçadito com roupagem medieval, que combina bem com o ritmo do jogo — nostálgico, simples e direto ao pixel. Há pequenas ilustrações que surgem ao longo da experiência que são inesperadamente divertidas e ajudam a dar personalidade ao mundo. A música mantém-se relaxante e discreta, perfeita para desligar o cérebro e entrar no loop. O único calcanhar de Aquiles está no lettering, que por vezes torna difícil ler informações importantes — nada trágico, mas o suficiente para frustrar quando estás a tentar perceber porque é que as tuas tropas não apareceram. Em termos de emoção, a curva foi clara: confusão → domínio → vício → vazio existencial leve. Ao início, o jogo não te dá a mão, e a descoberta das mecânicas vem à base da repetição. Quando finalmente percebes tudo, instala-se uma calma viciante — aquele prazer de otimizar, repetir, melhorar. Mas quando já sabes o que estás a fazer, há uma certa quebra: não sentes que o jogo te vá surpreender muito mais. Não te recompensa emocionalmente, mas oferece uma experiência relaxante e silenciosamente desafiante, que se torna quase meditativa... até começares a perguntar: “vale a pena mais uma run?” A jogabilidade de The King is Watching vive num equilíbrio estranho entre o repetitivo e o intrigante. Apesar de os loops serem bastante semelhantes de run para run, há sempre aquela curiosidade em testar novos edifícios e perceber como encaixá-los de forma mais eficiente — mesmo que, no fundo, acabemos sempre a seguir uma receita parecida. As decisões que o jogo apresenta são algo tímidas; não têm o peso nem o impacto de outros títulos com escolhas semelhantes (olá Humankind), o que tira um pouco do entusiasmo entre ondas. A colocação de edifícios no tabuleiro tem um lado quase Tetris, em que só certas configurações geram produção, o que até poderia ser interessante... O jogo é demasiado críptico no início — não explica bem o que está em causa nem como as mecânicas interagem entre si, e isso empurra o jogador para o velho método “tentativa e erro”. Os controlos funcionam, mas podiam ser bem mais intuitivos: há cliques a mais e menus que pedem algum esforço para se deixarem entender. E por muito que o jogo insinue espaço para experimentação, a verdade é que quase todas as estratégias acabam por saber ao mesmo. Mas em suma, valeu a pena jogar o The King is Watching? Se o que procuras é um simulador para desenvolveres um reino, enfrentares desafios e enriqueceres ao passo que desligas o cérebro como uma partida leve de Tetris não competitivo, então este jogo é para ti. Caso contrário, se procuras algo mais desafiante e disruptivo, este jogo não é o mais indicado para ti neste momento. Esta foi mais uma bit-nálise, análise tão curta que nem um bit ocupa. Em baixo podes contar com a ficha técnica: Nome e Preço: The King Is Watching – 14.99€ DLC e Preço: Nada até ao momento. Desenvolvedor: Hypnohead Editora: Tinybuild Metacritic: The King Is Watching HowLongToBeat: 3 horas Conquistas: 22 Testado num: PC (GTX 1060) Agradecimentos: Obrigado à editora pela cedência de uma chave para bit-nálise

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