Que sensação aquela, quando um jogo que desejas muito, ao fim é lançado. Acompanhei o lançamento original de The Legend of Nayuta: Boundless Trails lá para o distante verão de 2012, enquanto ainda estava no início das minhas andadas na saga Trails, após me ter apaixonado pelo fabuloso Trails in the Sky. Contudo, tal como anteriores entregas, Nayuta não chegou à nossa costa.
Ora avançando o relógio até junho de 2021, os fãs ocidentais da saga Trails perdemos a cabeça ao serem anunciados a localização para o Ocidente de 4, sim, Q-U-A-T-R-O, Trails, sendo estes, além de Nayuta, Trails from Zero, Trails to Azure e Trails into Reverie (podem aceder às suas reviews através das hiperligações) por parte da NIS America.
Chegando ao dia de hoje e depois do lançamento dos outros 3, por fim chega a altura de The Legend of Nayuta: Boundless Trails e não podia estar mais entusiasmado.
Desenvolvido pela Falcom para a PSP e lançado em 2012, estamos perante um action RPG que é um spin off da saga principal, tendo lugar no centro de Ciencia Sea em Remnant Island, um lugar completamente diferente do continente de Zemuria da saga principal.
Que comece esta nova aventura para além do horizonte.
História
The Legend of Nayuta: Boundless Trails segue as aventuras de Nayuta Herschel, um jovem curioso e vivaz que vive numa ilha muito particular, composta por restos de ruínas que, de tanto em tanto tempo, caem do céu, juntamente com fragmentos de estrelas. Certo dia, umas ruínas de um tamanho imensurável aparecem e surpreendem todos na ilha. O nosso protagonista, dada a sua natureza inquisitiva, decide investigar, junto ao seu melhor amigo Cygna, descobrindo no seu interior a pequena Noi, que lhes abrirá a porta a outro mundo, o de Lost Heaven/Terra, um mundo de sonhos e grande beleza, onde uma força malvada o está a tentar destruir.
A história começa e desenvolve-se de uma forma simples e sem complicações. Desde o primeiro minuto, o jogo apresenta-nos vários mistérios que nos colocará a imaginação a trabalhar. Mistérios como se haverá algo para além do fim do mundo, porque é que na ilha de Nayuta chovem ruínas, o que são os fragmentos de estrela e o mundo que neles vemos, quais os segredos de Lost Heaven, de Noi, de Creha, etc. A verdade é que mesmo sem grandes diálogos e exposição, o jogo conseguiu agarrar-me desde o primeiro momento.
Se estão à espera de uma história densa como os típicos Trails, com abundância de texto, aqui não o encontrarão. Apesar disso, a Falcom voltou a criar uma história bem boa, com uma dimensão menor.
A quantidade de personagens, sejam eles principais ou NPCs, seguem também a mesma tónica. Nayuta é um protagonista típico, com a sua enorme curiosidade pelo que há além do fim do mundo e pelos segredos de Lost Heaven. Acompanhando constantemente o protagonista, temos a adorável e destemida Noi, uma espécie de fada, guardiã de uma área de Lost Heaven. Juntos, enfrentarão todo tipo de perigos, para salvar Lost Heaven e proteger Creha, a misteriosa rapariga encontrada a dormir no centro do Star Garden.
Tal como manda a tradição em Trails, cada vez que certo evento tem lugar, os diálogos do NPCs irão mudando, sendo sempre aconselhável descobrir mais sobre esses personagens e a ilha, iniciando o diálogo com eles, uma e outra vez.
Um Trails completamente independente dos restantes
E respondendo à questão de muitos, não necessitam jogar aos anteriores jogos. Ao contrário da saga principal em que estão todos conectados e é importante serem jogados em ordem, aqui estamos perante uma história independente, sem qualquer ligação aparente com o continente de Zemuria da saga principal (bem, existem umas teorias fãs, mas nada confirmado oficialmente).
O jogo apresenta textos em inglês. A duração da história principal anda em redor das 20 horas, havendo diverso conteúdo secundário e um modo para aumentar a velocidade de jogo.
Gráficos
O primeiro que é preciso voltar a realçar é que The Legend of Nayuta: Boundless Trails é um jogo lançado originalmente para a Playstation Portable. Um jogo que considero ser topo técnico na consola e que voltava a demonstrar que uma boa arte e alguns fundos pré-renderizados conseguem tornar tudo um regalo para a visão.
Dito isto, estou extremamente satisfeito com o trabalho efetuado neste remaster. Joguei a versão da PS4 e estava à espera de outro trabalho duvidoso como o efetuado em Trails from Zero e Trails to Azure nestas plataformas, mas longe disso. O jogo foi trabalhado, mostrando um aumento de resolução e framerate que, juntamente a um fantástico uso de anti-aliasing, dão um brilho incrível a esta aventura. Retratos de personagens e texturas também foram melhoradas. Se há algo que realmente pode desmascarar a sua modesta origem na PSP, são os modelos dos personagens, num estilo mais chibi/rechonchudos e com uns grandes olhos. Admito que no lançamento original em 2012 não notei muito isso, mas com a evolução gráfica e ao haver modelados cada vez mais complexos, achei estranho os modelos aqui, mas facilmente habituei-me e até acho que é um estilo agradável.
Os cenários estão cheios de detalhes, sendo bastante diversificados, apesar de não haver grande quantidade, destaca-se a ilha de Nayuta, o Star Garden e os diversos continentes de Lost Heaven que viajaremos. Devido a um certo sistema no jogo, em Lost Heaven podemos alterar as estações, o que provoca uma grande mudança na ambientação de cada cenário, apesar de o seu layout permanecer, por norma, igual. Não há dúvida que os momentos de maior beleza são quando a câmara faz um zoom out e dá lugar a algumas vistas de uma beleza implacável, vistas estas de uma mistura de cenários pré-renderizados e em 3D. Para mim, isto é um estilo visual que desejo que mais jogos voltem a usar, mesmo que para isso seja preciso sacrificar um pouco a dimensão dos cenários.
Tal como indica a beleza dos cenários, a arte no geral também está bem boa, tanto nos personagens como ambientes, sendo a diferença entre a arte dos personagens e os seus visuais 3D o que pode causar alguma confusão a alguns jogadores. Gostaria também que houvesse um pouco mais de variedade no desenho dos monstros.
As animações são bastante limitadas nas conversas. As de combate estão a um bom nível, tanto do protagonista como inimigos, especialmente os chefes.
Jogabilidade
Ao contrário do que a saga Trails já nos habituou, em The Legend of Nayuta: Boundless Trails estamos perante um action RPG, inspirando-se mais em outros jogos da companhia como os clássicos Ys e Zwei do que propriamente da saga principal The Legend of Heroes/Trails.
Tirando partido do lema play on the go dos sistemas portáteis, a aventura desenvolve-se em diferentes fases de curta duração, dentro do mundo de Lost Heaven. Em cada continente temos diversas fases, onde temos à nossa disposição um combate em tempo real, momentos de plataformas e um ou outro puzzle de grande facilidade. Em cada fase existem também certos objetivos como encontrar o cofre e os cristais aí presentes. Também temos certos desafios como vencer uma determinada quantidade de inimigos, evitar certos danos, encontrar certo número de gemas, etc.
Como mencionado anteriormente, chegando a certo ponto em cada continente, podemos mudar a estação do ano deste, tornando o campo muito diferente a nível visual e com novos monstros, objetos, desafios e puzzles, apesar de manter um layout semelhante.
O sistema de batalha em tempo real é muito simples, mas efetivo. Os movimentos básicos de Nayuta são atacar com um combo de tanto número de golpes, esquivar e saltar. Ao alcançar certos objetivos iremos desbloqueando novas possibilidades, como novos tipos de ataques, aumento de combos, novas habilidades, como um útil botão de defesa, entre outros. Ao avançar a história também ganhamos habilidades que, para além do combate, também servirão para abrir novos caminhos nos diversos cenários.
Junto ao protagonista teremos a nossa Noi, que lutará ao nosso lado. Ela possui diversos tipos de ataques que estão associados a outro botão. Ganhará novos ataques ao avançar a história e a derrotar certos inimigos. Os seus ataques têm um contador com o número de vezes que os podemos usar, enchendo este com o tempo e ao atacar inimigos. Fiquei muito surpreendido tanto com a quantidade dos ataques dela à disposição, tanto como os diferentes tipos que existem, com diversos efeitos associados. Noi não só é um personagem cheio de carisma, como uma fantástica companheira de armas tomar.
Tanto Nayuta como Noi podem-se equipar com diversos tipos de equipamento. Ele mais associado a aumento o ataque e defesa e os dela mais de efeitos benéficos.
O grande destaque vai para as lutas contras os chefes finais, um espetáculo visual e bastante divertidas.
Tenho que admitir que ao ver vídeos nunca achei que o combate e a progressão das masmorras fosse nada de especial, contudo ao jogar existe algo especial. A união de todos os elementos leva-me de volta àqueles sistemas muitas vezes vistos em sistemas portáteis ou nas primeiras consolas em 3D, tanto a sua parte boa como má, e isso é perfeito em si.
Uma sistema de combate nostálgico
Existem diversas missões secundárias que nos serão entregues na ilha e a sua resolução poderá estar nesta ou no outro mundo.
Temos diversos tipos de objetos a colecionar que posteriormente poderão ser entregues ao museu e receber certas recompensas. Existe a possibilidade de conseguir receitas para cozinhar. Estas refeições servem não apenas para recuperar vida aos explorarmos as fases como também para atribuir mais experiência.
Encontrar ou comprar certos objetos dá a possibilidade de expandir certas opções no jogo, por exemplo, encontrar alguns metais dá acesso a novas armas e armaduras.
Este remaster também introduziu um High Speed Mode para acelerar a velocidade do jogo, podendo ativar e desativar com o pulsar de um botão.
Som
Seguindo os passos dos anteriores jogos, a Falcom Sound Team jdk oferece-nos uma banda sonora com um nível altíssimo. Sem dúvida destacar os temas que nos encontraremos ao explorar cada uma das fases, por norma, cheios de força, agilidade e algum suspense, dando um grande uso da bateria, guitarra e teclado. Temos o exemplo do tema que toca na fase de tutorial, “Tower of Ruins”, que deixa bem visível o que a Falcom pretende transmitir durante as explorações nestes mundos de fantasia. Em alguns casos temos uma dicotomia entre aqueles instrumentos mais pesados e orquestrais, fantástico de se ouvir. Depois temos temas como o de Remnant Island mais relaxantes e outros como o de Lost Heaven e “Creha” que transmitem um ar de misticismo/mistério.
Também temos diversos temas cantados.
Realmente cabe-me destacar a quantidade e qualidade dos temas presentes, outra obra fenomenal da Falcom Sound Team jdk.
Uma OST que regressa para demonstrar o poder da Falcom Sound Team jdk
Os efeitos de som estão bastante corretos, tanto ao caminhar como ao atacar. Gosto especialmente dos sons que fazem os diversos ataques da Noi.
O jogo conta com vozes em inglês e japonês em cenas muito específicas. Foi uma oportunidade perdida tanto da Falcom como da NIS America de, aproveitando o remaster, de fazerem uma dobragem completa. Ainda assim, tenho a agradecer à NIS America por apostar em realizar vozes em inglês para este jogo, já com mais de 10 anos.