Katanaut é daqueles jogos especiais, porque mostra o quão impressionate é, mesmo com recursos limitados, um jogo ser desenvolvido por apenas uma pessoa e conseguir oferecer uma experiência tão fluida e viciante, aliado a uma progressão que nos obriga a adaptar a cada tentativa. Este roguelite metroidvania não apresenta nenhuma novidade revolucionária, mas funciona muito bem, tanto na jogabilidade, como no papel metroidvania, já que nunca sentimos que uma run é tempo perdido.

Trata-se de um roguelite de acção, com uma vibe de terror e sci-fi espacial. Assumes o controlo de um guerreiro ágil (Naut); ágil ao ponto de ser capaz de cortar, esquivar e usar habilidades poderosas para sobreviver numa estação espacial infestada de horrores retorcidos, criaturas que outrora foram humanas. À medida que exploramos os corredores desta estação, rapidamente percebemos que quanto mais descemos, mais assombrosos se tornam os cenários e menos humanos os inimigos. Essa progressão dá ao jogo uma atmosfera sufocante, onde cada run traz uma sensação de descoberta mas também de crescente desconforto. É um dos indies com design de criaturas mais grotesco e assustador dos últimos anos.

Visualmente, Katanaut é um verdadeiro deleite no que toca a arte em pixel. Cada sprite é incrivelmente bem feito e detalhado, desde as partículas e o sangue a jorrar e fixar na parede quando damos o corte nas criaturas, passando pelo visual das personagens e até aos cenários vastos; e uma vez mais frisando, foi um projecto com poucos fundos e desenvolvido por apenas um desenvolvedor. A acompanhar esta arte, está uma boa pitada de uma soundtrack synthwave à altura, que se torna molécula essencial da identidade do projecto. Se jogaste Katana Zero, um brilhante indie da Devolver Digital, vais adorar todo este ambiente sonoro que rodeia Katanaut.

O ambiente espacial e a estética grotesca das criaturas lembram-nos constantemente que estamos perante um universo hostil, com ecos de Lovecraft e ficção científica obscura. A curva de dificuldade pode assustar no início, principalmente jogada no teclado, mas é justamente essa sensação de “lutar pela sobrevivência” que dá intensidade a Katanaut. A cada descida pelas sombras, não só enfrentamos inimigos cada vez mais cruéis, como também descobrimos segredos sombrios que dão vida a esta atmosfera opressiva.

A essência de um metroidvania está toda aqui; a rejogabilidade, graças a segmentos gerados proceduralmente. Este factor de repetição garante que nenhuma run é igual à anterior: numa podemos encontrar um percurso mais directo, noutra um autêntico inferno de emboscadas e desafios inesperados. Essa imprevisibilidade mantém a experiência fresca e obriga-te a adaptares-te constantemente. Somam-se ainda inúmeros itens, perks e habilidades desbloqueáveis que reforçam um sistema de progressão vasto e recompensador, transformando cada morte não num fracasso, mas numa oportunidade de aprender, evoluir e descobrir novas sinergias entre poderes.

O que mais interessa num metroidvania e num roguelite, e o core máximo da experiência é sem dúvida a sua jogabilidade, e uma vez mais Katanaut brilha. À primeira impressão, não só pela movimentação como pelos impactos dos golpes e da própria vibração cada que cada um causa, lembra claramente Dead Cells. Os comandos parecem muito simples, mas podem ser tarefa árdua de dominar. Basicamente o lado esquerdo do rato faz o golpe melee na base dos cortes, e o lado direito atira munição de fogo, munição essa que é recarregada ao cortar inimigos. O nosso protagonista é muito ágil como mencionei anteriormente, usando a seu favor essa agilidade para típicos movimentos ninja como o dodge, slides, ou a possibilidade de andar de parede em parede para se locomover entre andares.

Além dos golpes, temos também duas habilidades para usar que podem variar de acordo com as tuas builds. Se procuras algo algo mais kinético, podes activar uma explosão que danifica e empurra os inimigos, ou se a tua onda for mais combate a curta distância, tens um corte que passa pelos inimigos, com um curto cooldown de recarga, mas muito dano. Temos também upgrades como qualquer metroidvania, que nos vão aparecendo ao progredir, como por exemplo dar um boost no poder da katana, ou aumentar a chance de melhor loot. Uma vez mais, o conselho é usar e abusar das builds que vão de acordo com o teu estilo de jogo, porque upgrades vão aparecendo e desbloqueando ao longo da run. É incrível como um jogo desenvolvido por uma só pessoa, consegue trazer tanta surpresa run após run; há sempre mais um elemento descoberto, uma maneira de avançar, e por aí vai…

E claro, não podemos falar de Katanaut sem mencionar as lutas contra bosses. Estes confrontos são verdadeiros testes de resistência e leitura de padrões, onde cada erro pode ser fatal, mas são igualmente frustrantes. Os bosses são variados, e visualmente apelativos, mas, muitas vezes, as batalhas obrigam a dominar não só o ritmo, como aprender a controlar a frustração. Tal como nos grandes soulslike, derrotar um boss não é apenas uma vitória mecânica, mas um momento de catarse que nos deixa com a sensação de conquista e de que realmente merecemos avançar; mas quando as mecânicas não colaboram, é complicado, e nisto refiro-me às hitboxes, que são uma das falhas da jogabilidade. Quando se tratam dos inimigos mais simples, pouco ou nada se sente, tal é a rapidez como damos o slash e avançamos, mas neste tipo de combate, sente-se mais; e certamente será algo que depois de melhorado, deixa a experiência ainda mais perfeita.

Agradecemos à Pirate PR por nos terem cedido gentilmente um código para review na Steam

CONCLUSÃO
Incrível e Frenético
8.5
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
katanaut-analiseKatanaut é um indie surpreendente, que apesar de ter sido desenvolvido apenas por uma pessoa, entrega uma experiência sólida e viciante. O combate é intenso, a atmosfera mistura com mestria o terror cósmico com ficção científica, e tanto o pixel art como a banda sonora synthwave elevam ainda mais o conjunto. É desafiante e, por vezes, frustrante nas lutas contra bosses devido a algumas falhas de hitbox, mas mesmo assim mantém-se como um dos indies mais promissores e memoráveis do ano.