A Electronic Arts é uma empresa que é bastante criticada por algumas medidas que toma face ao consumidor e à monopolização de direitos que impeçam outros produtos de qualidade emerger nas mesmas condições. Não obstante, alguém dentro da EA decidiu criar os EA Originals, e por isso, estou-lhes bastante grato, no sentido em que permitem que as equipas expressem as suas visões, sem qualquer prejuízo de perderem titularidade dos IP’s publicados.

Dentro desta label vimos surgirem títulos como It Takes Two, Wild Hearts, Unravel, Sea of Solitude, entre muitos outros. Não são jogos perfeitos, mas muito facilmente se destacam uns dos outros pela liberdade dada às equipas na criação dos produtos. Ora, o mais recente título debaixo da tarja EA Originals é o destaque de hoje, vamos então falar de Immortals of Aveum.

Narrativa

Immortals centra a história em Jak, um rapaz com origens humildes mas mais chico-esperto do que humilde. Após um breve tutorial, deparamo-nos com um evento que traumatiza Jak e assenta o passo para o desenrolar da narrativa. Somos então acolhidos na ordem dos Magni por Kirkan, protagonizada pela enorme Gina Torres, de forma a desenvolvermos as nossas capacidades e alcançarmos a famosa vingança face ao antagonista.

As prestações são bastante convincentes, acrescentando uma camada emocional aos acontecimentos. Para além disto, conseguem ainda quebrar a tensão com humor subtil, à excepção de Jak, que tenta inserir humor em tudo o que é fala.

O que mais me chateia em Immortals é que tinha potencial para uma história incrível, mas perde-se desnecessariamente nos rasgos pseudo-carismáticos de Jak para tentar quebrar o gelo, algo que não quebra a linha narrativa como a própria imersão do jogo. Com isto quero dizer que o lore de Immortals é genuinamente interessante, mas Jak, juntamente com outras vertentes do jogo, tentam de certa forma amenizar o potencial épico da narrativa, metendo-a assim no bolso, levando a um sub-desenvolvimento que não corresponde de todo ao que podia ser. No fim lá encontramos uns vestígios de desenvolvimento em Jak, mas ainda assim senti que foi demasiado tempo perdido com piadas desnecessárias.

Immortals of Aveum

Jogabilidade

Immortals é um jogo em perspetiva first-person com combate baseado apenas em magia, e funciona perfeitamente na ótica da execução, trazendo alguns problemas com as adversidades.

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Temos três tipos diferentes de magia, mas sendo todos ofensivos. Cada magia tem uma cor específica, tendo nós à nossa disposição magia azul, vermelha e verde, sendo que cada uma é personalizável, não tendo um tipo específico de funcionar. O que define a funcionalidade da magia é a sigil, uma pulseira que utilizamos, não sendo possível equipar a mesma pulseira em duas magias diferentes. Numa forma simplificada, podemos caracterizar as magias como modo sniper, sub-machine gun e caçadeira, sendo que podemos ter duas caçadeiras ou duas sub-machines, e por aí fora.

As cores são importantes pois os inimigos que encontramos vêm por vezes envolvidos numa proteção que apenas a magia da mesma cor consegue partir. Gostei desta ideia pois evita o uso extensivo do mesmo tipo, levando-nos a preocupar com a melhoria dos vários tipos de magia, e respetivas pulseiras. A variedade dos inimigos é diversificada até metade da história, a partir daí encontramos sempre os mesmos, mas em condições diferentes (como proteções de cores diferentes).

O combate de Immortals tem um bom loop, mas introduz algumas variáveis que não são compatíveis entre si, como ter de recarregar a magia (what?), sendo que muitas das vezes o campo de batalha é uma confusão de tal forma que a melhor maneira de o descrever é a verem a batalha final do vídeo de Skyrim do videogamedunkey. Escusado será escrever que a confusão aumenta imenso a dificuldade. Claro que não existe nenhuma habilidade que remova o recarregamento da magia, que já por si é um paradoxo pois a magia é infinita, mas pronto, devaneios.

Immortals of Aveum

Para além do combate, temos também uma boa dose de platforming, e aqui sim, Immortals puxa o lustro ao Unreal Engine 5, trazendo segmentos bastante divertidos e impressionantes em termos visuais. O platforming não se limita a pequenas porções da história, tendo nós acesso a certas arenas que são dedicadas unicamente a navegarmos em estilo até ao fim.

No geral, a jogabilidade acaba por ser um pouco conflituosa, seja no combate ou até mesmo em mecânicas básicas, como por exemplo, o botão de interagir com o ambiente ser o mesmo que utiliza recursos para recuperarmos magia especial. Claro que já sabem onde é que isto vai parar, ou seja, vão dar por vós a recuperar magia sem necessidade pois tentaram falar com uma pessoa ou abrir um baú.

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Parece-me ainda que certos aspetos referentes a quality of life foram também desvalorizados, ora, se tivermos uma pulseira com cinco disparos, se dispararmos duas vezes e cairmos do mapa (acontece mais do que possam pensar), quando voltarmos à vida, a magia não recarregou, portanto continuamos a ser obliterados com magia e ainda temos de recarregar.

Immortals of Aveum

Mundo

Como já referi, o lore de Immortals é super interessante, portanto um grande bem-haja à equipa de escritores. Para além da escrita, os artistas visuais foram também uma grande ajuda em tornar toda a experiência cativante, trazendo um mundo medieval com rasgos steampunk, algo que sinceramente acho que faz falta na indústria, portanto, tragam mais mundos medievais se faz favor!

Encontramos vários cenários diferentes para explorar, aproveitando a Ascendant Studios para introduzir conceitos etéreos, fugindo assim aos “limites” da natureza, mantendo uma boa alternância entre o plano por onde passamos.

Não sei bem como descrever o estilo de mundo face à exploração, pois embora não tenhamos missões secundárias e o caminho seja linear, temos abertura para explorar durante as missões, inclusive voltar a outras áreas, e no fim do jogo estamos à vontade para limpar quaisquer tarefas que faltem, mais concretamente, puzzles, baús e arenas, portanto vou descrevê-lo como um mundo semi-aberto(?).

Immortals of Aveum

Audiovisual

Immortals of Aveum utiliza o Unreal Engine 5 para nos trazer uma experiência visualmente impressionante, no entanto, esta experiência apresenta-se com alguns soluços. Também derivado da enormidade de efeitos que estão a acontecer no ecrã, os incríveis visuais trazem consigo quebras de fotogramas, levando a uns slowdowns, mas felizmente não são muito frequentes, acontecendo maioritariamente nas fases de combate.

Outro aspeto que me chateia (não tão profundamente) é a banda sonora. Esta traz consigo rasgos mágicos que criam uma atmosfera épica ao jogo, mas é interrompida/intercalada com tons e melodias modernas, quebrando por completo a imersão, pois estes nem sequer assentam no estilo de jogo.

Immortals of Aveum

Breviário

Em suma, creio que a Ascendant tem aqui um produto de que se deva orgulhar. Embora precise de polimento, Immortals of Aveum traz consigo originalidade, tanto no cenário como em algumas vertentes da jogabilidade, e por isso, recebe sempre um mérito adicional da minha parte. A história tem potencial para imenso sucesso, mas neste produto, limita-se desnecessariamente por escolhas incompreensíveis.

CONCLUSÃO
Em Ascenção
7.3
immortals-of-aveum-analiseRespeito à Ascendant pelo esforço em diversificar a indústria, faltando apenas limar algumas arestas numa experiência confusa, mas divertida.